Victor Jorge / vjorge@publituris.pt • Fotos: DR
Criada em setembro de 2020, em plena pandemia, a Associação de Turismo Português para o Médio Oriente (ATPMO) pretende colocar Portugal no mapa de destinos dos turistas árabes. A fundadora e CEO da associação, Maria Inês Amaral, explica como Portugal deve ser “vendido” nos países do Golfo Pérsico.
Portugal parte em desvantagem, quando comparado com os eternos rivais europeus. Contudo, “a nossa essência, as paisagens, a gastronomia, o clima temperado, a excelente e diversifica- da qualidade hoteleira, mas, acima de tudo, a nossa hospitalidade, a nossa genuinidade e simpatia” poderão fazer a diferença junto de um cliente com um poder de compra acima da média mundial e com um gosto por produtos de luxo.
A Associação de Turismo Português para o Médio Oriente foi criada, no Dubai, em plena pandemia, em se- tembro de 2020. Qual a razão para o surgimento desta entidade, que reações tiveram e o que esperam alcançar?
A associação for criada devido a um crescente aumento de interesse por Portugal como destino nos mercados do Médio Oriente e de um pedido de ajuda e suporte por parte do setor do turismo desta região de como vender o destino. A ideia foi muito bem recebida por parte do setor de turismo em Portugal, uma vez que em apenas seis meses já temos seis sócios e fechámos parcerias chave com o setor do turismo na região do Médio Oriente.
Mas a associação foi criada pelo crescente interesse do Médio Oriente pelo destino Portugal ou é uma simples tentativa de “vender” o destino Portugal no Médio Oriente? O que é que se conhece de e o que é que a própria associação dá a conhecer de Portugal?
Quando cheguei ao Dubai, há oito anos, a Emirates Airlines tinha um voo diário para Lisboa e o destino Portugal apenas era vendido em pacote de férias em conjunto com Espanha. Ou seja, uma ou duas noites extra em extensão a uma estadia em Espanha. Nestes últimos três a quatro anos, o interesse por Portugal foi crescendo e as próprias companhias aéreas da região começaram a investir no destino por haver mais procura. A Emirates Airlines colocou um segundo voo diário para Lisboa e um voo direto para o Porto. A Qatar Airways tem um voo direto de Doha para Lisboa.
A associação tem como principal ob- jetivo promover Portugal como des- tino, enquanto cria oportunidades de negócio para os seus sócios e dá o necessário apoio ao setor do Médio Oriente com know-how de como vender o destino.
O que pode Portugal “vender”? Segurança, boa gastronomia, clima, praia, história, uma boa relação preço-qualidade são fatores que tornaram Portugal um destino a conhecer?
Segurança é, sem dúvida, um dos fatores principais que influencia a escolha do destino de férias para as famílias árabes, não tanto a praia, pelo menos para as famílias mais conservadoras, mas sim as nossas paisagens e florestas, lagos e rios, o clima temperado, a diversidade gastronómica, sobretudo de peixe e marisco e, claro, os pastéis de nata que também já chegaram ao Médio Oriente e que são muito apreciados. Outro dos fatores, como refere, é, sem dúvida, a qualidade de oferta hoteleira a preços abaixo da média europeia.
Que Portugal “vende” a associação? O que é que Portugal oferece em termos de atração ao turista do Médio Oriente?
O Portugal que vendemos é, no fundo, a nossa essência, as paisagens, a gastronomia, o clima temperado, a excelente e diversificada qualidade hoteleira, mas, acima de tudo, a nos- sa hospitalidade, a nossa genuinidade e simpatia.
Que ações têm desenvolvido, sabendo-se que as viagens estão, neste momento, limitadas?
Até agora e no seguimento daquilo que são os nossos objetivos principais, temos trabalhado no sentido de proporcionar aos nossos sócios o fecho de parcerias e contratos com o setor no Médio Oriente. Muito do nosso trabalho, até agora, tem sido nesse sentido e na formação, nomeadamente, através de webinars.
Por exemplo, no último webinar que realizámos para um grupo de agên- cias sauditas, tivemos cerca de 100 pessoas a assistir, mas já temos mais marcados para este mês. Em maio vamos ter a feira de turismo Arabian Travel Market e a ILTM Arabia no Dubai, onde a associação vai estar presente para promover o destino e cada sócio individualmente. Em outubro temos, também, a T-fest no Dubai, onde vários dos nossos sócios já garantiram a sua presença. Vamos aproveitar esta oportunidade e fazer sales calls no Qatar e Arábia Saudita com alguns dos sócios.
Temos também uma newsletter mensal que enviamos para uma mailing list de cerca de 700 contactos
por todo o Médio Oriente, além de termos a ideia de fazer um roadshow, mas talvez o iremos adiar para 2022.
Têm tido algum apoio por parte das entidades portuguesas na promo- ção do destino Portugal?
Não, até agora nenhum, mas é algo procuramos, uma vez que temos um capital reduzido.
Money talks
A associação não opera somente no Dubai, mas alarga a sua operação a outros países como Arábia Saudita, Kuwait, Omã e Qatar, além dos Emi- rados Árabes Unidos. Existem diferentes formas de trabalhar estes mercados?
Sim, a associação está sediada no Dubai, mas a nossa rede de contactos estende-se a todo o Golfo Pérsico. Este ano e devido à pandemia, temos concentrado o nosso trabalho nos EAU e, especificamente, no Dubai, uma vez que ainda não é possível viajar para certos Emirados, nomeadamente Abu Dhabi.
A forma de trabalhar é muito idêntica, uma vez que as culturas dos países do Golfo são muito idênticas em termos do tipo de férias e produto que procuram. São clientes que têm por costume viajar com as suas famílias numerosas e staff com um poder de compra acima da média mundial, com um gosto por produtos de luxo. No entanto, têm perfeita noção dos preços e valores praticados no resto do mundo.
Não existindo um grande conhecimento sobre o destino Portugal, é uma vantagem ou desvantagem face a outros países/destinos con- correntes como Itália, Espanha ou Grécia?
É uma desvantagem, uma vez que se torna mais difícil para as agências de viagem vender o destino porque há falta de conhecimento. Mesmo que exista procura e interesse no destino, as agências de viagem não têm os contactos adequados de DMC em Portugal, o que lhes cria alguma in- certeza no momento de aconselhar o destino, e, consequentemente, o destino não estará a ser vendido em toda a sua potencialidade.
Itália, Espanha, França já estão presentes no Médio Oriente há vários anos e as agências sabem que podem contar com suporte não só em atividades de formação, como em ações de marketing e promoção.
Com referiu no início, o facto de, nos últimos dois anos a Emirates ter aumentado a frequência de voos para Lisboa, colocar mais um voo para o Porto, e a Qatar Airways um voo direto de Doha para Lisboa, é demonstrativo do interesse que já existe por Portugal?
Há três anos quando tive pela primeira vez a ideia de iniciar este projeto de promover Portugal no Médio Oriente, havia muito pouca oferta de voos diretos, pelo que apesar de na altura estar convencida que podia, de certa forma, convencer as companhias aéreas locais da potencialidade do destino Portugal, rapidamente percebi que o mercado ainda não estava preparado, e que sozinha não iria conseguir levar esta ideia avante.
Pouco a pouco, Portugal foi ganhando identidade própria como destino de viagem e a qualidade do turismo e preços competitivos rapidamente chamaram a atenção nesta região do mundo. A partir do momento em que as maiores companhias aéreas do mundo investem no aumento de frequências de voos para um destino, isso demonstra, sem dúvida, uma aposta e interesse na promoção do destino.
Comunicar Portugal
Fala-se muito na necessidade de diversificar o turismo em Portugal. Aconselharia uma campanha de divulgação do destino Portugal no Médio Oriente?
Sim, sem dúvida que seria importante. Tenho várias campanhas planeadas para 2021 e seria fantástico ter algum apoio financeiro por parte das autoridades do turismo em Portugal.
O que pode a oferta portuguesa fazer para melhor se preparar para receber o turista do Médio Oriente? Aquilo que é preciso perceber é que, nestes países do Golfo Pérsico, há uma enorme população de expatriados. No Dubai, por exemplo, 90 % da população é expatriada, apenas 10% são emiratis. Aquilo que quero dizer é que, quando se trata de turistas expatriados que vivem no Médio Oriente, a forma como estes viajam é, certamente, diferente da dos árabes do Golfo Pérsico. Para alguns turistas muçulmanos é importante a oferta de comida Halal e pequenos detalhes como um guia que fale árabe ou informação/brochuras em árabe são sempre uma vantagem. De resto, penso que Portugal já está habituado a receber turistas que procuram produtos de muita qualidade. Um setor que irá, sem dúvida, beneficiar do aumento de turismo desta parte do mundo é o setor de compras.
Em menos de meio ano, já contam com seis sócios e quatro parceiros.
Que parcerias procuram para a associação e que contrapartidas recebem esses parceiros e sócios? O nosso principal objetivo é o de criar oportunidades de negócio para os nossos sócios, em Portugal, com o fecho de parcerias com o setor do turismo do Médio Oriente, com fecho de contratos que vão garantir a venda dos seus produtos junto dos clientes desta região. Para os nossos parceiros locais garantimos suporte e know-how de como vender o destino e produto adequado aos seus clientes.
Procuramos sócios do setor do turismo em Portugal que tenham interesse em entrar nestes mercados com um poder de compra muito acima da média mundial. Qualquer empresa do setor de turismo em Portugal pode tornar-se sócio.
Que metas ou objetivos possuem em termos de visibilidade de Por- tugal no Médio Oriente? Que número pretendem alcançar em termos de turistas do Médio Oriente a visitar Portugal?
Para já, não temos um número específico de dormidas em Portugal por parte de turistas do Médio Oriente que queiramos alcançar. Estamos a dar os primeiros passos e a dar a conhecer Portugal e tudo aquilo que temos para oferecer.
Fui durante alguns anos diretora de marketing do turismo alemão no Golfo Pérsico, um destino muito procurado pelos árabes já há muitos anos. A grande diferença que sinto na promoção de Portugal, é que ainda estamos numa fase inicial, há que primeiro dar a conhecer e dar visibilidade. O turismo, ou melhor, o turista desta parte do mundo é de qualidade e não de quantidade, apesar dos árabes viajarem mais vezes ao ano do que a média do resto do mundo.
Espero poder vir a colaborar com o Turismo de Portugal e que o meu know-how destes mercados e enorme rede de contactos pelos cinco países do Golfo possa ser um benefício.